IGREJA-SOCIEDADE ALTERNATIVA

A explicação do sentido desse título, está em ARQUIVO DE POSTAGENS, out. 29 de 2011

sábado, 4 de dezembro de 2010

Religião católica romana (e outras) não sintonizam com o Evangelho de Jesus cont. (p 60)

Confira a continuação do artigo do teólogo José Maria Castillo divulgado pelo site do IHU.

2. O Deus do Evangelho.

"O cristianismo, desde o primeiro momento (antes que os seguidores de Jesus fossem chamados de "cristãos": Atos 11,26), teve o atrevimento de proclamar sua fé em um "Deus crucificado". Como é lógico, em uma cultura em que a morte na cruz era o "servile supplicium" , do qual Tácito fala (Hit.4,11), o tormento que arrancava a honra e a dignidade do "cidadão romano", como explica Cícero em sua diatribe contra Verres (In Verrem,II,5,64), porque era a forma mais degradante de acabar com escravos, estrangeiros e subversivos contra o Império, evidentemente unir a palavra "Deus" com a morte, e com a morte na "cruz",
representava uma loucura e uma chacota.Por isso, não tem nada de estranho que a primeira imagem de um crucifixo da qual se teve noticia é do ano 200 (d.C.).
E é uma imagem blasfema. Porque se trata de um desenho com graffiti, que foi
encontrado (em 1856) em uma das dependências dos serviçais imperiais no
Palatino de Roma. O tosco esboço ali pintado representa um homem crucificado e com cabeça de burro. Abaixo escreveram: "Alesamenos sebete theom": "Alexandro adora Deus".Porque, no tempo do Império, um "Deus crucificado" era
escárnio tão inapresentável que só podia ser representada como a adoração de um asno. Isso era como afirmar a inversão total da Religião.



Pois bem, estando as coisas dessa forma e em uma cultura que podia unir dessa forma Deus com a cruz, compreende-se porque São Paulo, na Primeira Carta aos Corintios, explica Jesus Cristo crucificado falando da "loucura ('morós') de Deus" e da "fraqueza ('asthenés') de Deus" (1 Cor 1,25), evidentemente não é o Deus
"todo-poderoso" ("pantokrátor") que confessamos no Credo, segundo a conhecida fórmula do Concílio de Niceia (DH 125). Um Deus "fraco" e "louco" não tem lugar em nosso sistema cultural, nem em nossa escala de valores, nem no mais elementar das nossas convicções religiosas.
Pela simples razão de que falar dessa maneira de Deus, a partir dos critérios que
formam uma Religião, seja a que for, é não só a maior falta de respeito em que podemos incorrer, mas também algo muito mais radical: isso equivale a negar a Deus e a zombar da Religião.


Por isso, seguramente, a maior dificuldade que os cristãos têm para entender o cristianismo é precisamente a Religião. Disse isso antes. E devo insistir agora nisso. Nós estamos familiarizados com a imagem de Cristo crucificado. E mais, não só estamos familiarizados com essa imagem. O problema é que, além de familiaridade diante de Jesus crucificado, mobilizam-se em nós os sentimentos mais nobres e mais profundos: respeito, admiração, devoção, piedade, generosidade, esperança."

Vários projetos de retirar das repartições públicas o crucifixo tem sido bombardeados como tentativas de extinguir a religião, ofensa à tradição cristã
do brasileiro e "que sei mais" ? Isso reflete bem como os cristãos
entendem o cristianismo como se fosse uma Religião e o crucifixo um objeto de inculcar respeito e credibilidade nos locais públicos onde é colocado.Mas a realidade desmente isso todo dia!

Na próxima semana continuo com o mesmo artigo, aproximando-se do seu final.