IGREJA-SOCIEDADE ALTERNATIVA

A explicação do sentido desse título, está em ARQUIVO DE POSTAGENS, out. 29 de 2011

sábado, 7 de julho de 2012

Equivocam-se redondamente sobre a Eucaristia.(p 98)



Pasme: os equivocados do título são: os papas(mais recentes), os bispos, os padres e os fieis (com poucas exceções).Talvez você se convença disso ao ler os próximos textos. O 1º por ser longo, vou dividí-lo em duas partes: uma hoje e outra na próxima edição. Após o post de hoje farei um comentário.

Corpus Christi: Momento para repensar o mistério da Eucaristia
José Lisboa Moreira de Oliveira
Filósofo. Doutor em teologia. Ex-assessor do Setor Vocações e Ministérios/CNBB. Ex-Presidente do Inst. de Past. Vocacional. É gestor e professor do Centro de Reflexão sobre Ética e Antropologia da Religião (CREAR) da Universidade Católica de Brasília
Adital

O primeiro momento deste processo reflexivo deveria ser um repensar a própria solenidade de Corpus Christi. Sabemos que esta festa surgiu no auge de uma violenta crise pela qual passava a Igreja Católica. A liturgia havia se sofisticado e se distanciado do povo. Era celebrada em latim, língua não mais falada pelas comunidades. Além de serem celebradas numa língua incompreensível, as liturgias eram pomposas, luxuosas, uma verdadeira afronta aos pobres. Tinham se tornado uma coisa para o clero, pois o povo fora reduzido a mudo espectador. Neste contexto corria solta a simonia: a celebração dos sacramentos, especialmente da Eucaristia, dependia de muito dinheiro. Assim, por exemplo, o preço da missa dependia do modo como o padre erguia a hóstia consagrada durante a anamnesis, chamada de "consagração”, e considerada o momento mais importante da missa. Quanto mais alta a elevação, mais cara era a missa.
Por essa e outras razões a liturgia ficou reduzida a mero devocionalismo. As pessoas não mais participavam da Eucaristia e a tinham apenas como simples devoção. Iam às igrejas para adorar o Santíssimo Sacramento e não para participar da Ceia do Senhor. A situação ficou tão grave que a própria hierarquia determinou que se comungasse pelo menos uma vez por ano, durante o período da Páscoa. Foi neste contexto que o papa Urbano IV, em 1264, fixou a solenidade de Corpus Christi: uma festa para adorar pública e pomposamente a hóstia consagrada. Portanto, a festa de Corpus Christi, como veremos a seguir, é um desvirtuamento radical do significado litúrgico do mistério do Corpo e do Sangue do Senhor. Ou, se preferirmos, uma traição do pedido do Mestre: "Tomai e comei, tomai e bebei”.
Considero a festa de Corpus Christi, na forma como ainda é celebrada atualmente, um desvirtuamento litúrgico e uma traição do mandato de Cristo por várias razões. Antes de tudo porque Jesus não deixou dito que ele queria ser adorado pomposamente num ostensório luxuoso nas igrejas e pelas vias públicas de uma cidade. Colocar a Eucaristia, sacramento do simples e pobre pedaço de pão, num ostensório de ouro é, recordando São João Crisóstomo, ofender aquele que não tinha onde reclinar a cabeça.


Em segundo lugar porque o cerne da Eucaristia está não na adoração, mas na refeição, na comida, na ceia. Ou, se quisermos, o modo correto de adorar a Eucaristia é participar da ceia, é comer do pão e beber do cálice. De fato, Jesus não disse "tomem e adorem, mas tomem e comam, tomem e bebam”. A adoração eucarística surgiu por meio do costume de se levar um pedaço do pão eucarístico para os doentes impedidos de participar da celebração litúrgica dominical. E como se acreditava que aquele pedaço de pão era o sacramento do Corpo e Sangue de Cristo, enquanto ele não era levado e consumido pelo doente, era adorado como sacramento da real presença de Cristo no meio da comunidade cristã.
O hábito de consagrar hóstias apenas para trancá-las num "cofre dourado” e ser adorado pelas pessoas é um costume que nasce no contexto de crise antes mencionado, quando se havia perdido por completo a noção do mistério eucarístico. Portanto, é algo que destoa do significado da Eucaristia para a comunidade cristã. As normas para o culto à Eucaristia fora da missa, emanadas pelo próprio Vaticano, são muito claras a este respeito. Chegam inclusive a dizer que se deve evitar neste culto tudo aquilo que possa tirar da Eucaristia a sua natureza de alimento, de comida, de refeição. Por rigor de lógica as espécies eucarísticas, quando colocadas para a veneração dos fiéis, deveriam ser postas em pratos de comida e não em ostensórios luxuosos. Porém, as próprias autoridades eclesiásticas são as primeiras a não obedecer aquilo que escrevem para os outros".           Até aqui a 1ª parte do artigo.


Meu comentário.
Depois das reformas do Vaticano II a adoração eucarística quase desapareceu especialmente na Europa e nos USA. Mas com os 2 últimos papas, o Vaticano tem encorajado fortemente um retorno dessa prática. Diariamente nas igrejas de todo o mundo, acontecem milhares de "hora santa" e tem muitas igrejas dedicadas à "adoração perpétua". No Rio de Janeiro existe um Santuário Nacional de Adoração Perpétua. Aí, diante do ostensório, atualmente grupos de "jovens adoradores" realizam cada mês, uma vigília em preparação à Jornada Mundial da Juventude, objeto de meu post anterior. E foi nas JMJ presididas por Bento XVI que ele introduziu a prática de uma adoração silenciosa da hóstia   durante a vigília noturna.O papa se ajoelha e com ele centenas de milhares de assistentes.
Emocionante espetáculo, mas como você ficou sabendo, completamente equivocado, como também o das vigílias dos "jovens adoradores" do Rio.

No livro do renomado biblista, J.D.Crossan, ele mostra a importância da refeição no nascimento do cristianismo. Pedro Lima Vasconcelos, outro biblista, fez uma resenha do livro. Escreve: "...localizamos no cap. 23 o eixo de todo o livro....é no alimento e na bebida oferecidos igualmente a todos, que se encontra a presença de Deus e de Jesus. Mas alimento e bebida são as bases materiais da vida de modo que a Ceia do Senhor é crítica política e desafio econômico além de rito sagrado e culto litúrgico.... "o nascimento do cristianismo aconteceu em 2 lugares diferentes,  mas há apenas uma única mãe, a refeição que, compartilhada pela comunidade, faz presente na terra o Deus judaico de justiça."     

Se a adoração da hóstia  é um grande equívoco, muito maior é o que o autor vai mostrar na segunda parte do artigo, pois está nele justamente, a causa, a motivação dessa "adoração equivocada." 
Assunto do próximo post.