IGREJA-SOCIEDADE ALTERNATIVA

A explicação do sentido desse título, está em ARQUIVO DE POSTAGENS, out. 29 de 2011

terça-feira, 18 de agosto de 2009

Democracia na Igreja (p7)

Ainda com relação a um NOVO MODO DE ORGANIZAR A IGREJA trago a parte inicial do MANIFESTO DO POVO DE DEUS, nós somos Igreja redigido por Luigi de Paoli, líder do movimento na Europa.
Abre com o título: Democracia na Igreja: comunidade e autoridade. Está dividido em três blocos:
a = a originalidade de Jesus
b = o consenso
c = os ministérios
Tento resumir cada um.
a) A originalidade de Jesus
A originalidade absoluta de Jesus consiste em propor uma comunidade alternativa ao mundo no qual existem muitas desigualdades e injustiças nela prevê uma autoridade permanente mas com características opostas as do "mundo":


  • não pode impor pesos desnecessários, nem ocupar postos de honra, nem ser tratados como mestres;

  • é sempre um remédio extremo e em caso de conflito ou rivalidade a "via mestra" é a da correção fraterna.

Os problema surgidos nas comunidades tem como caminho obrigatório o "discernimento comunitário", que prevê a participação dos membros da comunidade, todos ou representantes. O eixo da comunidade é ela própria enquanto dotada de uma variedade de carismas e ministérios. O lema que melhor sintetiza tal atitude é o que foi repetido por papas e decretos: O que diz respeito a todos, por todos deve ser discutido e aprovado. Esta atitude mostra o grande respeito pelo consenso.


Compare isso com as atuais atitudes da Igreja Católica: Alguma semelhança? (nota do blog)

b) O consenso

Durante todo o primeiro milênio disciplinas e controvérsias eclesiásticas foram reguladas por sínodos e concílios nos quais o consenso foi elemento fundamental. Assim, a importância de um sínodo não depende do número ou da dignidade dos bispos presentes, mas da medida em que os decretos são aceitos.

Durante séculos, o acesso ao ministério episcopal e sacerdotal, não foi considerado como hoje, um problema quase só do indivíduo, mas sim da comunidade a qual se reconhecia o direito de eleger e mesmo de remover os próprios ministros.

Exemplo magníficos disso se deu em 3 dioceses espanholas; o povo tinha deposto seus bispos porque não haviam resistido à perseguição. O papa Estevão reconfirmou um deles no seu lugar. Os fiéis recorreram ao bispo local, Cipriano que convocou uma assembléia cuja resolução assinada por 37 bispos presentes, confirmou a decisão do povo contrária a do papa. Cipriano escreveu depois: "O povo tem o direito de eleger bispos dignos e recusar os indignos; não pode ser anulada pelo papa a eleição que se processou de modo correto(Epist.67 IV,1 - 2)"

Hoornaert no citado livro, lembra que era de origem da sinagoga o costume de resolver conflitos com sínodos e traz outro exemplo: a controvérsia em torno da data da Páscoa no ano 190; nela não foi a opinião do bispo de Roma que prevaleceu mas o princípio do respeito pelas tradições diversas e acrescenta: "a igreja antiga não praticava a uniformidade mas a unidade no respeito pela autonomia de cada comunidade considerada plenamente Igreja" (pág. 143)

Hoje os fiéis não são consultados. Na diocese de Lins houve um caso de os fiéis e padres mandarem nomes de suas preferências para substituir um bispo falecido. Quem apareceu foi um desconhecido. (nota do blog)

O bloco c) os ministérios fica para o próximo post

Sermão da montanha e comunidade (p6)

Nos últimos séculos se desdobra uma longa e movimentada discussão sobre o problema da viabilidade do cumprimento do sermão da montanha. A discussão até hoje não terminada é compreensível. As exigências de Jesus são radicais e intransigentes. E o sermão da montanha resiste a todas as tentativas de ser usado para um cristianismo barato.
...Se as exigências de Jesus podem ser cumpridas ou não, é uma questão que não pode ser decidida pelo indivíduo, e muito menos ainda, numa escrivaninha. Pois a ética de Jesus não é dirigida ao indivíduo, mas ao grupo dos discípulos, à nova família de Jesus, ao povo de Deus a ser constituído. Ela tem uma dimensão eminentemente social. Se o cumprimento desta ética é viável ou não, só pode ser decidido por grupos de pessoas que se colocam conscientemente sob o Evangelho do Reino de Deus e que querem ser comunidades reais de irmãos e irmãs – comunidades que formam um espaço vital da fé onde todos se apóiam mutuamente.
Mas nossas paróquias são tais comunidades? Será que elas têm uma consciência de comunidade, da qual só se pode falar quando uma comunidade sabe que tem sua história própria diante de Deus? Elas não são, muito mais, uma aglomeração de muitos indivíduos, dos quais um mal toma conhecimento do outro?
Paulo, fala do fardo do cristão. Ele escreve aos Gálatas:
Carregai o peso uns dos outros e assim cumprireis a lei de Cristo (6,2)
Com isto ele quer dizer: lá onde a comunidade cristã é comunidade de verdade, onde ela é unida, onde todos se apóiam e se ajudam, é viável cumprir a”lei de Cristo”.
(Adaptado do Lohfink pág. 90 e 91)