IGREJA-SOCIEDADE ALTERNATIVA

A explicação do sentido desse título, está em ARQUIVO DE POSTAGENS, out. 29 de 2011

domingo, 27 de julho de 2014

Como viviam os cristãos no sec.II (p 138)

A vivencia concreta das comunidades cristãs antigas (sec.II e III) no seguimento de Jesus é pouco conhecida.No entanto muitas de suas atitudes que devíamos ter conservado, perdemos e nos desfiguramos como povo de Deus. O livro " A Igreja que Jesus queria" do Gerard Lohfink tem páginas preciosas que relatam o que escritores da época testemunhavam sobre os grupos cristãos. 
Em seguida transcrevo algumas páginas do capítulo intitulado "A fraternidade cristã".                                  


"Que o tratamento de irmão e irmã nas comunidades não era apenas uma expressão bonita, mostra o serviço de assistência, que se estendia, em princípio, a todos  os membros da  comunidade, que necessitavam  de auxílio;  algo que era revolucionário frente a sociedade pagã. Tratava-se principalmente, das viúvas, dos órfãos, dos velhos e doentes, dos inválidos, dos desempregados, dos presos e dos banidos, dos cristãos que estavam em viagem e de todos os membros da comunidade que passavam necessidades. Além  disso  vinha ainda  a preocupação por um enterro digno dos pobres.


Dos  elementos mencionados nesta lista, merece realce especial o cuidado da comunidade  por seus inválidos e desempregados. As comunidades exigiam de todos os que podiam  trabalhar, que trabalhassem e até arranjava na medida do possível, empregos para eles. Mas quem não podia mais trabalhar podia estar seguro de receber  auxílio da comunidade. Assim foram criados  um sistema de mediação de empregos  e uma rede de segurança social, que eram únicos no tempo antigo. Eles baseavam-se na ajuda mútua e em ofertas  espontâneas , que geralmente eram recolhidas durante a celebração eucarística aos domingos. Assim, dentro  de sua conhecida descrição da celebração cristã,  Justino  diz:

Mas quem tem os meios e a boa vontade, dá, conforme seu próprio parecer, o que quer e aquilo que é recolhido, é depositado com o dirigente; com isto, ele ajuda órfãos e viúvas, aqueles que por causa de doença ou por qualquer outra razão passam necessidades, os presos e os estrangeiros que estão presentes na comunidade   (Justino,Apologia I. 67...).

Este sistema de assistência altamente  eficiente,contudo, não se limitava à própria comunidade local.Temos uma série de provas de que a ajuda se estendia também a comunidades cristãs vizinhas nas quais surgira uma necessidade  especial.Especialmente a comunidade de Roma era conhecida por sua ajuda a comunidades de outras cidades. O bispo  Dionísio de Corinto escreve à comunidade de Roma, por volta do ano 170:

Desde o começo, vocês tinham o costume de ajudar a todos os irmãos de várias maneiras e de mandar auxílios a muitas comunidades em todas as cidades. Pelos donativos que desde outrora mandaram, mantendo assim, como Romanos, uma tradição romana antiga, vocês aliviam a pobreza dos necessitados e auxiliam os irmãos que vivem nas minas. Seu santo bispo Sóter não só manteve este costume, mas ainda o ampliou (Eusébio,História da Igreja IV, 23.10...).

Tanto dentro das diversas comunidades como na Igreja em sua totalidade, irmandade não era uma palavra vazia. “Enquanto a doutrina cristã, aos olhos dos seus adversários  parecia utópica e irreal, ela mostrava-se no seu uso prático como orientação concreta para resolver as necessidades  econômicas e sociais, pelo menos, dos membros das comunidades “ (H.Kraft...)

Com tudo isto é claro o que a Igreja antiga entendia com o termo amor (ágape).Não um sentimento nobre, mas uma ajuda bem concreta – dada especialmente aos irmãos na fé. Esporadicamente ágape pode envolver também pessoas fora da Igreja, segundo a tradição de Mt 5,43-48.Mas geralmente o termo é entendido da mesma maneira como é usado na linguagem do Novo Testamento,isto é, amor mútuo dentro da comunidade. Assim Aristides, em correspondência exata à terminologia da literatura das epístolas do Novo Testamento, diz, no capítulo 15 de sua apologia, dos cristãos:

Aos ímpios, eles oferecem benefícios com solicitude (15,5), uns aos outros eles amam-se (15,7)".

No próximo texto o Lohfink continuará mostrando vivências dos cristãos do II e III séculos.