IGREJA-SOCIEDADE ALTERNATIVA

A explicação do sentido desse título, está em ARQUIVO DE POSTAGENS, out. 29 de 2011

domingo, 1 de julho de 2012

Concentrações massivas:será essa a solução? cont. (p 97).

Agora uma avaliação da Jornada Mundial da Juventude  - JMJ – vista sob ângulo diferente do post anterior.
Li diversos artigos na internet  sobre a JMJ realizada em Madri  (Espanha) em 2011. Meu objetivo: conferir o que aconteceu lá,  desconsiderar  o que era próprio da conjuntura sócio-político-religiosa peculiar  da região, tanto da nação espanhola como da cidade de Madri e me fixar nos demais procedimentos,  para então prognosticar o que  poderá acontecer  na nossa  JMJ brasileira.  Um desses artigos me chamou a atenção por relatar fatos e atitudes  com olhar crítico. Mas sua força maior é que se trata de uma “declaração “ de um coletivo muito categorizado: a Associação  espanhola dos teólogos e teólogas  João XXIII. O que esses teólogos  espanhóis  registram como ocorrido em Madri,  já é - para mim - um começo de prognóstico  do que poderá  ocorrer também na JMJ do Rio em 2013. Vou resumir  o texto  publicado em espanhol pelo sitio ATRIO em  3 de outubro de 2011.
1 - Houve uma eficaz organização, mobilizando centenas de milhares de jovens de todos os continentes.
2 - Merecem nosso respeito todos os participantes, embora nem todos tivessem motivação religiosa;  merecem sobretudo  os milhares de voluntários  e voluntárias  que colaboraram  em todo o funcionamento.
3 – Cremos, porém, que não foi propriamente  uma Jornada da ” juventude”, nem mesmo da juventude católica, mas uma Jornada do “ papa”, que exerceu o protagonismo em todos os momentos e utilizou os jovens para reforçar seu poder de chefe de Estado e da Igreja. A organização esteve  focada na exaltação do papa, beirando a papolatria. Era a confirmação do autoritarismo  e do caráter piramidal da Igreja católica.
4 – A ausência de interesse do papa pelos jovens, se manifestou na escassa referencia a seus graves problemas, como o desemprego e a falta de perspectivas de futuro: a crise econômica os atinge especialmente.
5 – A JMJ foi uma clara demonstração do poder da Igreja numa sociedade secularizada e  num Estado não confessional.
6 – Preocupa-nos  de modo especial a imagem de Jesus de Nazaré  e da Igreja, oferecida  pelo  papa aos jovens, à sociedade e aos próprios católicos: um Jesus de Nazaré  espiritualista e desencarnado, uma Igreja espetáculo, patriarcal e ritualista, mais de acordo com os concílios de Trento e do Vaticano primeiro do que do Vat.II  O principal empenho da jornada parecia ser levar até o extremo a “restauração eclesiástica”.
7 – A JMJ contou, em cada momento, com o apoio e legitimação do governo central e local, dos empresários  e militares;  ficou demonstrado  assim, o tratamento privilegiado para com a Igreja em nível institucional. Isto nos parece impróprio numa sociedade  cultural e religiosamente pluralista e de um Estado constitucionalmente não confessional.
8 – Cremos  excessivo o tempo dedicado  à cobertura do evento nos canais públicos de  TV; outra prova do tratamento em favor da Igreja católica com dinheiro público, e da falta de igualdade entre as religiões.
9 – Igualmente excessivo foi o gasto com a viagem do papa: milhões de euros ; privilégios  para os peregrinos e os gastos das varias administrações  com segurança, alojamento, etc. Esses gastos  mostraram uma vez mais  a insensibilidade da hierarquia, incluso o papa, para com as pessoas e famílias  castigadas  pela crise, com cortes no salário, nos benefícios  sociais, saúde etc.
10 – Apesar do desencanto desta visita para muitos coletivos cristãos, temos a esperança de que  “outra Igreja é possível” e nessa direção continuaremos a trabalhar, esperando que o façam também o papa e a Igreja institucional, no futuro.  

Meu prognóstico para a JMJ do Rio em 2013; a distribuição em parágrafos numerados  facilitará o trabalho.
Quanto aos números 1 e 2  não há porque não se repetir também no Rio.
Quanto ao 3, ao 5 e 6, se referem às atitudes e à oratória do papa. Mudarão em aspectos periféricos  mas conservarão, aqui, a mesma linha teológico-pastoral,  criticada pelos  teólogos acima, pois traduzem  o modelo de Igreja vigente nas esferas oficiais, em grave crise, mas que não se decidem a modificar.
Quanto ao número 4 : a crise no Brasil não é tão aguda como na Espanha; o nível de desemprego dos jovens é menor, mas também presente e preocupante;  e existe muita frustração por falta de perspectivas, pois o sistema capitalista explorador,  gera continuamente e em toda parte,  essa mesma situação.  O papa aludirá a isso?
Quanto ao 7 não sei como será, mas a julgar pela nossa conjuntura parece que as “mesadas” de origem pública, se houver, serão pequenas;  já a contribuição empresarial  pode ser significativa. A questão é verificar  se a ou as empresas financiadoras  não tem uma prática nos negócios, reprovável diante do Evangelho. O grande escândalo que atraiu pesadas críticas da JMJ de Madri, especialmente por parte do” Forum dos padres de Madri”, uma agremiação de 120 sacerdotes, foi que o cardeal Rouco Varela, bispo de Madri, angariou e recebeu muito dinheiro de empresas espanholas  de “duvidosa ética”, quanto  à exploração  e outras delinqüências, como descreve a reportagem de Jesus Bastante, publicada pela IHU on-line. Esperamos  transparência  sobre a captação de recursos no  JMJ do Brasil.
Quanto ao 8, também é esperar para ver como será.
Quanto ao 9, uma pergunta obrigatória: quem pagará  as despesas de viagem e hospedagem do papa e comitiva, ao Brasil, por vários dias? Será  que como em Madri, alguns grupos vão fazer passeata , portando cartazes: “O PAPA VIAJA, O PAPA PAGA”; ou “ DOS MEUS IMPOSTOS, ZERO PARA O PAPA”?  Vamos esperar transparência nisto também.  
Oportunamente, voltarei ao assunto.