IGREJA-SOCIEDADE ALTERNATIVA

A explicação do sentido desse título, está em ARQUIVO DE POSTAGENS, out. 29 de 2011

sábado, 5 de novembro de 2011

E se ficarmos sem sacerdotes? (p80)

Trago mais luzes ao tema candente sobre  SACERDÓCIO, PARA QUE ?  abordado aqui recentemente. É um lúcido artigo do teólogo espanhol José Maria Castilho publicado  no seu blog e divulgado pelo IHU On Line em 25 de janeiro de 2011 cujo título indaga: O QUE ACONTECERIA SE ACABASSEM OS SACERDOTES NA IGREJA ???
Vou apresentá-lo em dois tempos.

"Na semana passada escrevi neste blog uma entrada na qual recordei como a Igreja do primeiro milênio teve um conceito da vocação sacerdotal muito diferente daquele que temos agora. Hoje se pensa que a vocação é o “chamado de Deus” para que um cristão, com a aprovação do bispo, possa ser ordenado sacerdote. Nos primeiros 10 séculos da Igreja, se pensava que a vocação era o “chamado da comunidade” para que um cristão fosse ordenado sacerdote. Mas ocorre que, nesse momento, a escassez de vocações é um fato tão notável que até os políticos cristãos-democratas da Alemanha tornaram público uma carta na qual pedem ao Episcopado que possam ser ordenados sacerdotes homens casados. Até os homens da política andam preocupados com a má situação na Igreja, entre outros motivos, pela alarmante falta de sacerdotes para atender as necessidades espirituais dos católicos.
Assim estão as coisas nesse momento. Os bispos – já o disseram os alemães – não estão dispostos a suprimir a lei do celibato. E menos ainda estariam dispostos a tomar decisões mais radicais no que se refere ao clero, especialmente pelo que diz respeito à necessidade de que a Igreja tenha sacerdotes para administrar os sacramentos. Eu não sei se os bispos vão ceder neste delicado assunto. E se cederem, quando o farão. Seja como for, me parece que chegou o momento de enfrentar esta pergunta: e se chegar o dia em que ficaremos praticamente sem sacerdotes? Seria isso a ruína total da Igreja?

O cristianismo tem sua origem em Jesus de Nazaré. Mas Jesus não foi sacerdote. Jesus foi um leigo, que viveu e ensinou sua mensagem como leigo. Jesus reuniu um grupo de discípulos e nomeou 12 apóstolos. Mas aquele grupo era composto por homens e mulheres que iam com ele de povoado em povoado (Lc 8, 1-3; Mc 15, 40-41). A morte de Jesus na cruz não foi um ritual religioso, mas a execução civil de um subversivo. Por isso, a Carta aos Hebreus diz que Cristo foi sacerdote. Mas este escrito é o mais radicalmente leigo de todo o Novo Testamento. Porque o sacerdócio de Cristo não foi “ritual”, mas “existencial”. Quer dizer, o que Cristo ofereceu, não foi um rito cerimonial em um templo, mas sua existência inteira, no trabalho, na vida com os outros e sobretudo na horrível morte que sofreu. Para os cristãos, não há mais sacerdócio que o do Cristo, que consiste em que cada um viva para os outros. Nem mais nem menos que isso. O sacerdócio cristão, assim como se vive na Igreja, não tem fundamento bíblico nenhum. Por isso, na Igreja não tem que haver homens “consagrados”. O que tem que haver são homens e mulheres “exemplares”. O “sacerdócio santo” e o “sacerdócio real” de que fala a primeira Carta de Pedro (1, 5.9) é uma mera denominação “espiritual” de todos os cristãos."

Na semana vindoura estará aqui a continuação desse texto.