Seu sobrenome ecoa a revolução na América Latina. Ivone Gebara (foto) é brasileira, freira e feminista. Pertence à Congregação das Irmãs de Nossa Senhora - Cônegas de Santo Agostinho - e há décadas vive no Nordeste do Brasil, numa vida de “inclusão” no meio popular. Atualmente reside em Camaragibe, na periferia de Recife. De dentro da Igreja, procura mudá-la. Dedica-se, fundamentalmente a partir de uma teologia feminista, desconstruir o direito natural, patriarcal e machista que a hierarquia católica pretende impor. Devido as suas posições, especialmente em favor da despenalização e legalização do aborto, recebeu severos castigos impostos pelo Vaticano. Porém, Ivone não se cala.
Ela nasceu em 1944. É doutora em Filosofia pela Universidade Católica de São Paulo e em Ciências Religiosas pela Universidade Católica de Lovaina (Bélgica). Durante 17 anos, lecionou no Instituto de Teologia de Recife, até a sua dissolução ordenada pelo Vaticano, em 1999, como uma forma de silenciá-la. Desde então, dedica o seu tempo, principalmente, para escrever, dar cursos e conferências sobre a hermenêutica feminista, novas referências antropológicas e a ética e os fundamentos filosóficos e teológicos do discurso religioso.
É autora de mais de 30 livros e de dezenas de artigos e ensaios, entre eles: “Trindade: palavra sobre coisas velhas e novas. Uma perspectiva ecofeminista” (1994), “Teologia ecofeminista: ensaio para repensar o conhecimento e a religião” (1997), “Rompendo o silêncio: uma fenomenologia feminista do mal” (2000), “Mulheres de mobilidade escravas: as mulheres do nordeste, uma vida melhor e feminismo” (2000), “As águas do meu poço. Reflexões sobre experiências de liberdade” (2005); “O que é teologia?” (2006), “O que é teologia feminista?” (2007), “O que é cristianismo?” (2008) e “Compartilhar os pães e os peixes. O cristianismo, a teologia e teologia feminista” (2008).Informações do site IHU on-line.
"Sair da concepção clerical ou papal da Igreja. Um desafio". Entrevista especial com Ivone Gebara.
Ela nasceu em 1944. É doutora em Filosofia pela Universidade Católica de São Paulo e em Ciências Religiosas pela Universidade Católica de Lovaina (Bélgica). Durante 17 anos, lecionou no Instituto de Teologia de Recife, até a sua dissolução ordenada pelo Vaticano, em 1999, como uma forma de silenciá-la. Desde então, dedica o seu tempo, principalmente, para escrever, dar cursos e conferências sobre a hermenêutica feminista, novas referências antropológicas e a ética e os fundamentos filosóficos e teológicos do discurso religioso.
É autora de mais de 30 livros e de dezenas de artigos e ensaios, entre eles: “Trindade: palavra sobre coisas velhas e novas. Uma perspectiva ecofeminista” (1994), “Teologia ecofeminista: ensaio para repensar o conhecimento e a religião” (1997), “Rompendo o silêncio: uma fenomenologia feminista do mal” (2000), “Mulheres de mobilidade escravas: as mulheres do nordeste, uma vida melhor e feminismo” (2000), “As águas do meu poço. Reflexões sobre experiências de liberdade” (2005); “O que é teologia?” (2006), “O que é teologia feminista?” (2007), “O que é cristianismo?” (2008) e “Compartilhar os pães e os peixes. O cristianismo, a teologia e teologia feminista” (2008).Informações do site IHU on-line.
"Sair da concepção clerical ou papal da Igreja. Um desafio". Entrevista especial com Ivone Gebara.
"Creio que há uma mudança que está se operando em parte do clero, do episcopado e de muitos fiéis, sobretudo mulheres na direção de uma nova ética sexual. O fermento está na massa. É preciso esperar que a levede lentamente”, diz a teóloga.
“O papa usou uma tática de não tocar de
forma clara nos assuntos litigiosos na Igreja numa primeira visita. (...) Quis
ser acolhido como Papa com um novo jeito de ser mais próximo e afetivo e sem as
pompas que caracterizam a vida dos pontífices seus predecessores”, avalia Ivone Gebara em entrevista concedida à IHU On-Line por e-mail. Para ela, Francisco age como “se acreditasse que com ele uma
nova era na Igreja Católica
Romana pudesse ser inaugurada. Mas, não podemos esquecer que o Papa Francisco é o mesmo cardeal Bergoglio de Buenos Aires e suas posições contrárias ao
casamento gay, ao aborto, aos anticoncepcionais são bem conhecidas do povo
argentino”. E aponta: “E mais, a teologia e a ética sexual oficial da Igreja
Católica ainda se referem a um mundo pré-moderno onde os avanços da ciência não
tivessem afetado a cultura e a moralidade das pessoas”.
A teóloga afirma que a resposta do papa
aos jornalistas referente à ordenação
das mulheres a “surpreendeu”. “A surpresa não foi o ‘não’ em
relação à ordenação, mas quando afirmou a necessidade de uma ‘teologia da
mulher’ na Igreja”, menciona.
E esclarece: “Com essa resposta
evidenciou um desconhecimento da luta e da produção teológica das mulheres por
muitas décadas. E isto é preocupante para um pontífice que está à frente de uma
Igreja majoritariamente feminina. Não sei se o desconhecimento é real ou se
corresponde a uma postura política em relação ao movimento de mulheres no mundo
e na Igreja. Nesse sentido avalio a visita como deixando a desejar, sobretudo
que a maioria dos jovens presentes na Jornada Mundial da Juventude era de
mulheres”.
Confira
a entrevista.
IHU On-Line - Como avalia a visita do Papa ao Brasil?
Minha avaliação toca também o meu
compromisso em relação à causa das mulheres que se expressa de diferentes
formas e nos diferentes contextos. A resposta que deu aos jornalistas na volta
à Itália quando perguntado sobre a ordenação das mulheres me surpreendeu. A
surpresa não foi o “não” em relação à ordenação, mas quando afirmou a
necessidade de uma ‘teologia
da mulher’ na Igreja. Com essa resposta
evidenciou um desconhecimento da luta e da produção teológica das mulheres por
muitas décadas. E isto é preocupante para um pontífice que está à frente de uma
Igreja majoritariamente feminina. Não sei se o desconhecimento é real ou se
corresponde a uma postura política em relação ao movimento de mulheres no mundo
e na Igreja. Nesse sentido avalio a visita como deixando a desejar, sobretudo
que a maioria dos jovens presentes na Jornada Mundial da Juventude era de mulheres.
IHU On-Line - Diferente dos outros papas, Francisco não abordou em seus discursos questões de gênero e moral, por exemplo. O que o silêncio do papa sinaliza?
Ivone
Gebara - Creio que o papa usou uma tática de não tocar de
forma clara nos assuntos litigiosos na Igreja numa primeira visita. A meu ver,
mas posso estar enganada, quis ser acolhido como Papa com um novo jeito de ser
mais próximo e afetivo e sem as pompas que caracterizam a vida dos pontífices
seus predecessores. É como se acreditasse que com ele uma nova era na Igreja
Católica Romana pudesse ser inaugurada. Mas, não podemos esquecer que o Papa Francisco é o mesmo cardeal Bergoglio de Buenos Aires e suas
posições contrárias ao casamento gay,
ao aborto, aos anticoncepcionais são bem conhecidas do povo argentino. E mais,
a teologia e a ética sexual oficial da Igreja Católica ainda se referem a um
mundo pré-moderno onde os avanços da ciência não tivessem afetado a cultura e a
moralidade das pessoas. Por exemplo, os insistentes conselhos da Igreja contra
os preservativos e anti-concepcionais revelam o quanto esses conselhos são
anacrônicos em relação ao mundo de hoje. E mais, como esse tipo de exigência
provoca o surgimento de comportamentos dúbios em muitas pessoas no que se
refere a moral sexual. Cada um age conforme suas necessidades e crenças e a
Igreja institucional age a partir de princípios ignorando a vida real das
pessoas.
IHU On-Line - Questionado sobre o fato de não ter mencionado esses assuntos em seus discursos, Francisco disse que os jovens já sabem qual é a posição da Igreja em relação a tais temas. Como a senhora vê essa resposta? Vislumbra alguma mudança na doutrina da Igreja ou na maneira de abordar esses temas?
Ivone
Gebara - Creio que no calor do grande espetáculo das falas
do papa e do ambiente de convivência
dos jovens, esses assuntos capitais não foram
tocados por Francisco e não houve igualmente insistência dos jovens para
isso, ao menos publicamente. Penso que o papa não desconhece o fato de que os
problemas acima enumerados são fundamentalmente problemas da juventude e não
dos mais velhos. O mesmo se poderia dizer das drogas. Entretanto, se a resposta
não foi dada diretamente pelo Papa, aliás, uma resposta que seria bastante
conhecida, foi dada por alguns grupos de Igreja talvez até apoiados por
autoridades episcopais.
Em muitas sacolas entregues aos jovens
havia um manual de moral
sexualem diferentes línguas e, por incrível
que pareça, um pequeno feto em forma de boneca assim como um pequeno terço em
que cada conta representava um fetinho. Eu quase não acreditei. Precisei ver
com meus próprios olhos para confirmar. Queriam instruir os jovens contra o
aborto dessa forma realista, violenta e desrespeitosa dos corpos e das dores
humanas.
Sinto que precisamos crescer em
humanidade, precisamos nos aproximar de forma desarmada das questões e dores
alheias. Com o sistema legalista de pureza apresentado por muitos grupos e
pessoas da Igreja corremos o risco de acirrar as diferentes formas de violência
e a mentira nas relações humanas.
Apesar disso, creio que há uma mudança
que está se operando em parte do clero, do episcopado e de muitos fiéis,
sobretudo mulheres na direção de uma nova ética sexual. O fermento está na
massa. É preciso esperar que a levede lentamente.
IHU On-Line - Considerando os primeiros meses da atuação do Papa Francisco, o que é possível vislumbrar acerca de seu pontificado?
Ivone
Gebara - Creio que ele começa com um ponto positivo. Há uma
inegável aceitação de sua pessoa e uma esperança em relação a reformas na
Igreja Católica. Mas sabemos bem que embora líderes sejam importantes às
estruturas de poder e outras, mudam apenas com o empenho coletivo. Nesse
sentido creio que os grupos
católicos espalhados pelo mundo deveriam manifestar-se mais,
fazer propostas e enfrentar a realidade plural da Igreja. Creio que essa
realidade plural deveria ter direito de cidadania respeitada. É difícil dizer
isso quando desenvolvemos ao longo de séculos a ideia da Igreja una, santa e
apostólica. O convite ao respeito das diferenças, o convite à inclusão parecem
ser apelos lançados em nosso século nas mais diferentes instituições. E as
instituições religiosas não podem deixar de ouvi-los.
IHU On-Line - Deseja acrescentar algo?
Ivone
Gebara - Gostaria de reforçar a ideia de que a Igreja também
somos nós. Isto significa sair de uma concepção clerical ou papal da Igreja. Em
outros termos, a Igreja não são apenas os bispos e não é apenas o Papa. Não são
eles que nos entregam a fé. Não são eles que nos dão Jesus Cristo. Não são eles que nos levam a aderir aos valores
que sustentam a vida. Eles têm uma função, sem dúvida, mas a realidade da fé se
inscreve em cada pessoa, depois se sustenta na comunidade de fiéis capazes de
ser uns para os outros justiça, misericórdia, compaixão e ajuda mútua na
manutenção da vida. Sair da valorização dos esquemas hierárquicos e buscar a
responsabilidade coletiva nas pequenas e grandes ações é um real desafio para
todas/os nós.
Com este excelente texto, encerro minhas postagens neste 2013. Volto depois do Carnaval.Bom Natal e Feliz Ano Novo. Norberto.
Com este excelente texto, encerro minhas postagens neste 2013. Volto depois do Carnaval.Bom Natal e Feliz Ano Novo. Norberto.