Em 2012 me manifestei sobre a
famigerada "Jornada", neste blog, em posts dos dias 10/06,20/06 e 1/07 com o
título:"Concentrações massivas, será essa a solução?" E em 18/12
outro texto com o provocante título: JMJ 2013:apoteose do infantilismo
católico. Com a proximidade da " Folia com Cristo" no Rio de Janeiro
(de 23 a 28 de julho) e diante das noticias que a imprensa vem divulgando, de
gestos em desacordo com o Evangelho de Jesus, como:o Vaticano requisitou ao
governo brasileiro, quatro helicópteros para os deslocamentos
internos do papa e um avião para ir buscar em Roma, dois papa-moveis, fora os
milhões gastos com segurança e infra-estrutura, pagos com nosso dinheiro - dos
impostos -, (no todo ou em parte?), por isso vou postar mais uns textos sobre o assunto.Neste de hoje
subscrevo inteiramente tanto a citação do grande teólogo espanhol, José Maria
Castilho, como o artigo do Jardel Santana.
08.10.12 - Brasil
Porque sou contra a Jornada
Mundial da Juventude!
Jardel Santana
Adital
"Para muitas pessoas, tem
mais importância o que diz o Papa do que o que diz o Evangelho”.
(José Maria Castillo)
Apesar de ser católico, sou
contra a Jornada Mundial da Juventude (JMJ) em si e não apenas no Rio de
Janeiro. Vou começar minhas justificativas utilizando trechos de uma entrevista
de José Maria Castillo, o qual afirma que "a Igreja acabou por se
organizar de maneira que o centro da vida cristã de muita gente não é já o
Evangelho, mas a própria Igreja. Para muitas pessoas, tem mais importância o
que diz o Papa do que o que diz o Evangelho. Isto é uma traição ao Evangelho,
uma desorientação total em relação ao que a Igreja tem de fazer no mundo: não
magnificar a figura do Papa e do poder eclesiástico, mas exatamente o oposto,
fazendo o que Jesus disse aos discípulos, que deviam ser como crianças, que
tinham de andar pela vida sem dinheiro, sem sandálias… Hoje, uma viagem do Papa
é exatamente o contrário. (O Papa) Deve viajar, mas como um cidadão,
apresentando-se modestamente. Não deveria ser chefe de Estado, pois isso não
faz parte da fé, nem faz nenhum bem à Igreja. Devia retirar todo o protocolo e
a diplomacia, pois isso é hipotecar a liberdade do Papa e da Igreja. Não se
sabe quantos milhões de euros custa uma viagem do Papa. Não me parece que os
valores que se gastam tenham justificação pastoral, apostólica, evangélica,
teológica ou religiosa”¹.
Concordo plenamente com Castillo, pois também não percebo justificação pastoral, apostólica, teológica, religiosa e muito menos evangélica, no valor que é gasto em uma viagem papal.
Recentemente questionei algumas
pessoas a respeito do sentido e do objetivo da JMJ, algumas pessoas disseram
que era para reunir os/as jovens, isso todos/as sabemos, mas com qual intuito?
Reunir, por reunir? Reunir para reverenciar (idolatrar) a figura de uma pessoa
que não é Jesus e parece que a cada dia está mais longe dos ensinamentos
evangélicos? Penso que demonstrar poder não é um principio evangélico, ao
contrário, vai totalmente contra os ensinamentos de Cristo. Acredito que a JMJ
não possui outro objetivo, se não o de demonstrar poder, ou ao menos o suposto
poder papal e/ou da Igreja, pois "os grandes eventos de massa tem sido
uma estratégia da Igreja Católica no campo de disputa de fiéis, próprio de um
tempo em que a pluralidade religiosa é uma realidade e, embora ainda seja a
religião majoritária no Brasil, as pesquisas têm demonstrado a sua diminuição”².
É óbvio que isso (demonstração de poder ou estratégia para disputar fiéis) não
é dito, podemos dizer que é conteúdo não manifesto, mas que está implícito (se
isso fosse dito, provavelmente a adesão seria menor).
Além dessa questão que penso ser crucial (o sentido evangélico da JMJ), há outras razões para ser contra. O dinheiro que será gasto é uma dessas razões. Há boatos de que serão gastos R$ 200.000.000,00 (isso mesmo, duzentos milhões de reais). Destes, parece que R$ 100.000.000,00 (cem milhões) sairão dos cofres públicos, ou seja, dinheiro do/a cidadão e cidadã brasileiro/a, que mesmo não sendo católico/a irá pagar pelo evento.
Muitas pessoas dirão que o
retorno turístico será bem maior que os investimentos. Mas para quem irá este
retorno? Obviamente para grandes empresas, que muitas vezes exploram seus/suas
funcionários/as, colaboram para a destruição do planeta, dentre outras
atrocidades. E a igreja o que faz (ao menos parte dela)? Cala-se, ou melhor,
vende-se! A igreja deveria ser, não apenas na teoria, mas acima de tudo, na
prática, defensora da justiça, dos direitos humanos e da paz. Entrando na
lógica mercantilista ela está se afastando cada vez mais de tais princípios, e,
portanto do próprio Evangelho. Algumas pessoas ainda podem dizer que isso faz
parte do sistema, que a Igreja está dentro do sistema, por isso é assim, a
partir disso, levanto outro questionamento e ao mesmo tempo uma afirmação. A
igreja não deve ser anunciadora de esperanças, a primeira a acreditar em
"outro mundo possível”, em "outra sociedade possível”?! Se não for
isso, me avisem, pois estou no lugar errado.
Eventos como a JMJ e o modelo
hierárquico adotado pela igreja, divergem totalmente do modelo de uma igreja
discípula, seguidora de Cristo, a qual deve (sendo de fato discípula) estar
atenta "aos/às pequenos/as e à realidade em que vivem a maioria
dos/as jovens, principalmente os/as mais pobres”². Além disso,
aspectos relacionados à realidade juvenil no Brasil, tais como (1) extermínio
de jovens, principalmente pobres e negros/as; (2) as diversas formas de
violência que afetam os/as jovens, não permitindo que estes/as vivam em
plenitude; (3) trabalho semelhante ao escravo, o qual atinge parcela
considerável de adolescentes e jovens, colocando a vida destes/as em risco; (4)
o auto índice de suicido entre os/as jovens; (5) os inúmeros casos de jovens
que são agredidos/as cotidianamente por serem homossexuais; (6) a violência
policial que extermina a vida de diversos/as jovens país a fora, dentre muitas
outras questões, que permeiam a vida de milhões de jovens brasileiros/as não
serão abordadas, muito menos consideradas na programação da JMJ.
Os tópicos elencados no
parágrafo anterior propicia voltar, novamente, ao questionamento de qual o
intuito da JMJ (?) e também formular outros questionamentos, (1) qual a
intenção da Igreja Católica, quando pensa em um evento com a juventude, sem de
fato ouvi-la e faze-la protagonista desse processo? (2) Que diferença fará a
JMJ na realidade dos/as milhões de jovens que não estarão presentes nela,
muitos/as dos/as quais não possuem nem condições de participar? (3) A quem
salvará, aos milhões de jovens que passam necessidades diversas ou à uma igreja
que aparenta estar parada no tempo, muitas vezes nem seguindo os ensinamentos
de Jesus?
Concluo o presente texto, o
qual já está longo por demais, com as questões anteriores, espero que elas
sirvam para suscitar outros questionamentos.
*Estudante de Psicologia,
católico praticante, militante dos direitos humanos, em especial das
juventudes.
¹ Trecho extraído de: http://tribodejacob.blogspot.com/2012/01/jose-maria-castillo-ha-medo-na-igreja.html