IGREJA-SOCIEDADE ALTERNATIVA

A explicação do sentido desse título, está em ARQUIVO DE POSTAGENS, out. 29 de 2011

segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

Apelo à desobediência. (p 109)

No post anterior, a menção ao APELO A DESOBEDIENCIA  dos párocos austríacos -  "pfarrer initiative" - ficou bem saliente. Me propuz então hoje a explicar um pouco o que vem a ser esse Movimento.
Em junho de 2011 cerca de 300 padres católicos austríacos, se articularam e assinaram um Manifesto em que  pedem reformas na prática da Igreja Romana. Chamaram seu movimento de  APELO Á DESOBEDIENCIA.  Tomaram essa atitude por se sentirem obrigados a seguir suas consciências pelo bem da Igreja, contrariando, em alguns casos, as orientações da hierarquia. Os bispos se recusavam a um diálogo  mais interessante, visando mudanças. Outro rótulo que ganhou o movimento foi de “iniciativa dos párocos”,  “pfarrer-initiative”,  no idioma local.
Em janeiro de 2012, constatando que sua iniciativa recebia muitas manifestações de apoio e incentivo vindos também de outras nações, enquanto dos seus bispos, apenas relutância e até violenta rejeição, formalizaram um PROTESTO  em cinco “ NÃO.” Começam dizendo que...
 “Raramente chegou-se ao diálogo, e jamais publicamente. Mas nós contrapomos muitas vezes à atual situação de sofrimento das comunidades e da pastoral devido à falta de padres e ao envelhecimento do clero um enfático NÃO:

1. Dizemos NÃO quando devemos assumir cada vez mais paróquias, porque isso nos transforma em celebrantes-viajantes e em dispensadores de sacramentos, o que foge do verdadeiro ministério. Por isso, nos opomos à tendência a uma presença fugaz em muitos lugares, sem encontrar nem oferecer um ambiente acolhedor espiritual e afetivo.

2. Dizemos NÃO a cada vez mais celebrações eucarísticas no fim de semana, porque, desse modo, muitos dos serviços e pregações se tornam um ritual superficial e um discurso muito rotineiro, enquanto o encontro, o diálogo e a pastoral se atrofiam. Chegar um pouco antes da missa e ir embora logo depois transforma o nosso serviço em uma rotina oca.

3. Dizemos NÃO à fusão ou à dissolução das paróquias onde não se encontram mais párocos. Desse modo, é a carência que dita as leis, em vez de remediar a carência com a mudança de leis eclesiásticas não bíblicas. A lei é feita para as pessoas – e não o contrário. O direito canônico, em particular, deve estar ao serviço das pessoas.

4. Dizemos NÃO às exigências excessivas sobre os párocos, que são levados ao estresse pelo cumprimento de inúmeros deveres, aos quais não sobra nem tempo nem energia para uma vida espiritual e dos quais se espera o cumprimento dos deveres muito além da idade de aposentadoria. Assim, até mesmo a ação meritória realizada durante a vida pode ser danificada se exigida por um período muito longo.

5. Dizemos NÃO quando o direito canônico pronuncia um julgamento muito duro e cruel: contra os divorciados que ousam contrair um novo matrimônio, contra as pessoas do mesmo sexo que se amam e decidem viver juntas, contra os padres que não conseguem respeitar o celibato e, assim, entram em uma relação – e contra as muitas pessoas que obedecem mais à sua consciência do que a uma lei feita pelos homens.

Como o silêncio é interpretado como consentimento e como queremos assumir a nossa responsabilidade como padres e pastores, nos sentimos no dever de expressar este protesto em cinco pontos. É um "protesto" no sentido literal: um "testemunho para" uma reforma da Igreja, para o povo ao qual queremos ser o pastor e para a nossa Igreja.

A desolação no atual sistema da Igreja não é um bom testemunho para a "boa notícia" que nos move. Porque "não é nossa intenção dominar a fé que vocês têm, mas colaborar para que vocês tenham alegria" (2 Cor 1,24).
Conselho da Pfarrer-Initiatvie
Janeiro de 2012
Podemos  avaliar a repercussão desse Movimento no mundo ocidental, através dos títulos de vários artigos publicados no sítio do IHU On line, que apresento em seguida, nem sempre como no original e comentando alguns.
Um grupo de padres e diáconos da diocese de  Rouen, na França manifesta sua aprovação e solidariedade ao Pfarrer-initiative. Por outro lado o Vaticano mostra apreensão diante dessa rebeldia. Pois, isso está influenciando também o crescente abandono da Igreja por parte dos católicos austríacos. O Vaticano porém, até agora não teve atitude drástica coercitiva para com os padres rebeldes. A simpatia de amplos setores para com o Movimento, se tipifica por uma premiação que receberam da Fundação Herbert-Haag pela liberdade na Igreja católica, consubstanciado em 10 mil euros.  Em solidariedade aos fieis da Áustria, da Irlanda e de muitos outros países, mais de 50 padres e leigos da Bélgica, publicaram, em 19 de outubro pp. um MANIFESTO em que pedem aos seus bispos reformas urgentes, na mesma linha dos austríacos. Pedem também que os fieis que compartilhem essas preocupações, assinem o Manifesto. Até 30 de novembro mais de 6 mil já assinaram.  Em Rottenburg, Alemanha, 154 padres se organizam em grupo, e pedem diálogo e reformas semelhantes aos da Áustria. Assim é que atualmente estão em contato grupos semelhantes de padres na Alemanha, Irlanda, França, Estados Unidos e Austrália. Fica claro então que não se trata de um problema só de alguns padres austríacos, como afirmou Helmut Schüller líder do grupo. Essa expansão e consolidação determinou a iniciativa de começarem a preparar para o próximo ano, provavelmente na Alemanha, uma grande reunião em nível mundial .Em função disso permanecem conectados em rede.
O teólogo mais famoso da Itália hoje, Vito Mancuso, deu ao seu último livro o título: OBEDIENCIA E LIBERDADE. Entrevistado pelo Vatican Insider sobre o seu livro, o repórter perguntou-lhe: “Portanto a desobediência pode ser um caminho para renovar a Igreja?” 
Vito responde: “O próprio papa, na sua homilia, se perguntou se a desobediência é uma via para renovar a Igreja. A pergunta, obviamente, era retórica, porque, para ele, a resposta é um explícito "não". A mim, parece que também pode ser "sim", na medida em que a desobediência exterior tem como fim uma maior obediência interior à lógica evangélica que se diz como bem concreto dos indivíduos concretos. Sem a desobediência da teologia na primeira metade do século XX (um nome dentre todos, Teilhard de Chardin), não teríamos tido o Vaticano II e a reviravolta radical acerca da liberdade religiosa, ecumenismo, relação com os judeus e as outras religiões, apenas para citar as inovações mais marcantes. É preciso continuar nesse caminho profético".
OBSERVAÇÃO  -  As informações todas deste texto foram tiradas de vários artigos do sítio IHU On line.