IGREJA-SOCIEDADE ALTERNATIVA

A explicação do sentido desse título, está em ARQUIVO DE POSTAGENS, out. 29 de 2011

quinta-feira, 24 de outubro de 2013

A manutenção financeira do clero. (p 126)

Nos dois últimos posts procurei mostrar que as tais  “estruturas obsoletas”, cuja identificação os bispos não conseguem e que estão dificultando a mudança das paróquias, para se comporem como uma comunidade de pequenas comunidades, que aqui vou chamar de comunidades eclesiais de base – abreviando cebs – essas dificuldades são a maneira como eles concebem a eucaristia, o sacerdócio e a própria comunidade, como já comentei.

As  cebs não poderiam ser paroquializadas; teriam que ter vida autônoma, se articulando por áreas geográficas em torno de Centros de Serviços ( as atuais paróquias).Teriam que ser preparadas, formadas para andarem com as próprias pernas. O ministério  episcopal iria garantir a unidade necessária, na diversidade das formas. Não teriam que estar atreladas a uma pastoral diocesana ou paroquial.

Nesse  contexto, porém, a questão da manutenção financeira do clero se imporá como mais uma estrutura obsoleta a ser modificada no rumo do objetivo da mudança paroquial. Extinta a função sacerdotal do presbítero e os ritos da missa, as taxas/espórtulas , acabam. A manutenção pessoal e da parte física da igreja, (luz, água, limpeza etc.) ficaria nas costas do dízimo e do salário que hoje as dioceses costumam pagar aos padres. Mas esses salários são resultado de uma porcentagem que, por sua vez, os padres pagam à diocese para a manutenção da mesma. E do Vaticano. Essa porcentagem eles tiram do dízimo. Disso tudo resultaria uma redução importante no item receitas do clero. Inclusive porque a matriz ficaria bem menos frequentada, com menos esmolas, e outras doações.

O dízimo, era da matriz do Templo de Jerusalém, resultado da exploração dos camponeses  pela elite sacerdotal com taxas e dízimos e produtos para o sacrifício e purificação. Jesus reprovou tudo isso.É mais coerente não usar esse termo (dízimo).  Hoje os católicos não contribuem com 10 por cento mas com o que puder. Que palavra substituiria? Alguns sugerem oferenda. Antes da busca do nome, vamos ver como ficaria, nessa nova estrutura, a manutenção do clero.

A comunidade é a essência da fé cristã. Em vários posts e sobretudo no anterior, dei as características exigentes, segundo o NT, para que exista uma comunidade cristã. Entre essas características, sobressai a comunhão de bens, a partilha. As cebs articuladas  englobariam o presbítero e o bispo na sua partilha, contanto, é claro, que eles se enquadrassem nessa nova estruturação. Como nem todos os fieis de uma paróquia se integrariam em cebs, e nem todos os párocos e bispos, os isolados continuariam a drenar recursos – ou recebê-los - para a matriz, como agora, enquanto as cebs fariam a partilha entre si e eventualmente com o presbítero e o bispo confraternizados.Em vez de dízimo, como se chamaria? Penso em qualquer termo que signifique partilha.

O real sentido da Eucaristia, não como presença real que é a interpretação fundamentalista (ao pé da letra) do texto da “Instituição”, mas numa interpretação contextualizada, exige a partilha e a comunhão de vida, para acontecer como Memorial da Nova Aliança. (Hoje na igreja católica essas exigências são apenas retóricas).

Na ceia eucarística o pivô central é o partir do pão.
O pré-requisito fundamental para o Memorial é a conversão.
Não há fração do pão se não houver comunhão de vida e partilha de bens.
O fundamento da Eucaristia, é a vida comunitária.
O Memorial de Jesus só existirá enquanto atingir a praxis e não há Memorial sem esta.
O romper do pão está indelevelmente ligado à dimensão da justiça. Sem esta não há ceia.
A abrangência do Memorial da Nova Aliança, engloba  toda a vida de Jesus.
                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                        Em  outras palavras:

Os seguidores de Jesus celebram a Eucaristia como Memorial da Nova Aliança, quando, reunidos em comunhão de vida e de bens, numa refeição partilhada, confortados com a presença do Mestre – onde dois ou mais se reunirem em meu nome,  Eu estarei no meio deles -  reafirmam sua adesão ao seu projeto  de construção de uma autêntica fraternidade, cuja práxis será lutar contra as injustiças que atingem principalmente os mais pobres.