Nos dois últimos posts procurei mostrar que as tais “estruturas obsoletas”, cuja identificação os
bispos não conseguem e que estão dificultando a mudança das paróquias, para se
comporem como uma comunidade de pequenas comunidades, que aqui vou chamar de
comunidades eclesiais de base – abreviando cebs – essas dificuldades são a
maneira como eles concebem a eucaristia, o sacerdócio e a própria comunidade, como já comentei.
As cebs não
poderiam ser paroquializadas; teriam que ter vida autônoma, se articulando por
áreas geográficas em torno de Centros de Serviços ( as atuais paróquias).Teriam
que ser preparadas, formadas para andarem com as próprias pernas. O ministério episcopal iria garantir a unidade necessária,
na diversidade das formas. Não teriam que estar atreladas a uma pastoral
diocesana ou paroquial.
Nesse contexto,
porém, a questão da manutenção financeira
do clero se imporá como mais uma estrutura obsoleta a ser modificada no
rumo do objetivo da mudança paroquial. Extinta a função sacerdotal do
presbítero e os ritos da missa, as taxas/espórtulas , acabam. A manutenção
pessoal e da parte física da igreja, (luz, água, limpeza etc.) ficaria nas
costas do dízimo e do salário que hoje as dioceses costumam pagar aos padres.
Mas esses salários são resultado de uma porcentagem que, por sua vez, os padres
pagam à diocese para a manutenção da mesma. E do Vaticano. Essa porcentagem
eles tiram do dízimo. Disso tudo resultaria uma redução importante no item
receitas do clero. Inclusive porque a matriz ficaria bem menos frequentada, com
menos esmolas, e outras doações.
O dízimo, era da matriz do Templo de Jerusalém, resultado
da exploração dos camponeses pela elite
sacerdotal com taxas e dízimos e produtos para o sacrifício e purificação. Jesus
reprovou tudo isso.É mais coerente não usar esse termo (dízimo). Hoje os católicos não contribuem com 10 por
cento mas com o que puder. Que palavra substituiria? Alguns sugerem oferenda. Antes da busca do nome, vamos
ver como ficaria, nessa nova estrutura, a manutenção do clero.
A comunidade é a essência da fé cristã. Em vários posts
e sobretudo no anterior, dei as características exigentes, segundo o NT, para
que exista uma comunidade cristã. Entre essas características, sobressai a
comunhão de bens, a partilha. As cebs articuladas englobariam o presbítero e o bispo na sua
partilha, contanto, é claro, que eles se enquadrassem nessa nova estruturação. Como
nem todos os fieis de uma paróquia se integrariam em cebs, e nem todos os párocos
e bispos, os isolados continuariam a drenar recursos – ou recebê-los - para a
matriz, como agora, enquanto as cebs fariam a partilha entre si e eventualmente
com o presbítero e o bispo confraternizados.Em vez de dízimo, como se chamaria?
Penso em qualquer termo que signifique partilha.
O real sentido da Eucaristia, não como presença real
que é a interpretação fundamentalista (ao pé da letra) do texto da “Instituição”,
mas numa interpretação contextualizada,
exige a partilha e a comunhão de vida, para acontecer como Memorial da
Nova Aliança. (Hoje na igreja católica essas exigências são apenas retóricas).
Na ceia eucarística o pivô central é o
partir do pão.
O
pré-requisito fundamental para o Memorial é a conversão.
Não
há fração do pão se não houver comunhão de vida e partilha de bens.
O
fundamento da Eucaristia, é a vida
comunitária.
O
Memorial de Jesus só existirá enquanto atingir a praxis e não há Memorial sem
esta.
O
romper do pão está indelevelmente ligado à dimensão da justiça. Sem esta não há
ceia.
A abrangência
do Memorial da Nova Aliança, engloba toda a vida de Jesus.
Em outras palavras:
Os
seguidores de Jesus celebram a Eucaristia como Memorial da Nova Aliança, quando,
reunidos em comunhão de vida e de
bens, numa refeição
partilhada, confortados com a presença do Mestre – onde dois ou mais se
reunirem em meu nome, Eu estarei no meio
deles - reafirmam sua adesão ao seu
projeto de construção de uma autêntica fraternidade, cuja
práxis será lutar contra as injustiças que atingem principalmente os mais
pobres.