Reforma da Igreja ou transformação da sociedade? (p 91)

ALGUEM, depois de ler no meu blog o texto “A Igreja necessita hoje de uma reforma protestante”, se indignou, num e-mail, não com o conteúdo em si, mas comigo que o editei. Penso que não são poucos os que me diriam coisas semelhantes ao desse ALGUEM. Mas agradeci a ele por ter interferido comigo. Fora as agressões verbais, “ele” me aconselhou a me preocupar com a pobreza e demais problemas sociais em vez de me preocupar com a reforma de qualquer igreja, pois elas estão aí para enganar o próximo; e que eu deixe de ser inútil, mas busque amar o próximo, tenha discernimento, humildade, caridade...  etc.  Assim se expressou o ALGUEM.

Sentí que estava na hora de reiterar um esclarecimento sobre o objetivo do meu blog. Reiterar porque já o fiz em duas vezes: no primeiro post, em 28/7/09 com o título: “Novas formas de ser Igreja para despontar uma nova sociedade”. E outro em 31/10/09 quando explicitei mais o tema. Vou mostrar então, que o que eu pretendo, corresponde  ao que reivindicou o ALGUEM: a superação da pobreza e demais injustiças.

Para uma melhor compreensão, parto do conceito de SALVAÇÃO e de NOVA SOCIEDADE, adotados pelo biblista Gerhard Lohfink no seu livro “ A Igreja que Jesus queria,” dando uma informação bem resumida do projeto de Deus para a humanidade, chave para o que vem  depois.

 A sociedade, em dado momento histórico, apresentava-se pervertida. Deus para reencaminhá-la para o bem, segundo a Biblia, escolheu um povo que deveria ser o modelo desse bem,dessa nova sociedade, e os outros povos se espelhariam nele para se modificarem. Esse povo foi Israel. Nesse processo, Israel  não atingiu a exemplaridade necessária. Veio então Jesus, reconstituir e renovar seu povo. Mas também não conseguiu.(Deus respeita nossa liberdade !) Preparou, porém, os discípulos para dar continuidade a essa missão. Estes, por vários séculos, estiverem conscientes e atuantes no ideal de transformar a sociedade entorno, romano/judaica/grega, na nova sociedade dos seguidores de Jesus. E caminhavam exitosos, nesse objetivo, por meio de um modo de viver que contrastava com o da sociedade  restante. 

                                                                                                                Mas aos poucos foram se desviando desse caminho e a Nova Sociedade foi voltando para traz. Passaram-se os séculos. A Igreja se institucionalizou e deixando de ser seguidora de Jesus, virou uma "RELIGIÃO".Se acomodou deixando de ser uma sociedade de contraste com o mundo.  Se a Igreja continuasse seguindo o Evangelho promovendo a "Nova Sociedade", o mundo hoje seria muito mais justo, muito menos violento, muito mais solidário, isto é, a tal salvação de  Deus estaria sendo realizada pelos cristãos,  como um povo exemplar e fascinante, segundo o desejo de Deus. Mas infelizmente, a conversão dos que se auto denominam de cristãos,  está muito devagar.  Em seu lugar a "Velha  Sociedade" da dominação e exploração violenta dos mais fracos,  da fabricação turbinada de pobres e injustiçados, continua se impondo cruelmente.

Pois bem, com os textos do meu blog, quero ajudar a conscientizar as pessoas desse estado de coisas, apontando  caminhos de volta para o exemplo das comunidades cristãs fundantes, afim de que se faça  presente visível e palpável e identificável de novo, a salvação de Deus por meio de uma Nova Sociedade do povo de Deus.  

O mundo só pode ser transformado, se o povo de Deus se transformar a si mesmo. Irônico e risível Bento XVI em  Cuba, pedir mais  liberdade e democracia, se a Igreja oficial é autoritária e anti-democrática (monárquica). Falar em direitos humanos, se não os respeita internamente. Não se pode pregar conversão social aos outros, se não se vive uma comunidade que tenta realizar a nova sociedade do Reino de Deus.

“ Jesus nunca convocou para uma mudança político-revolucionária da sociedade judaica. Mas a conversão que ele exige como conseqüência de sua mensagem do Reino de Deus, quer desencadear, dentro do povo de Deus,um movimento, frente ao qual, as revoluções costumeiras  são bagatelas” (G.Lohfink).

Em síntese: meu blog não visa uma simples reforma das estruturas eclesiásticas, mas uma conversão tal que propulssione a transformação da sociedade, no mundo ansiado pelos pobres. 

No próximo post vou destacar o que me parece um gesto inicial básico para a volta ao seguimento do Evangelho.