IGREJA-SOCIEDADE ALTERNATIVA

A explicação do sentido desse título, está em ARQUIVO DE POSTAGENS, out. 29 de 2011

segunda-feira, 16 de setembro de 2013

Caso prova que há critérios políticos para santificação. (p 123)




O comentário a seguir eu o prometi no último post. Observe que a data é de 2011, janeiro.


Bento XVI matou ontem dois coelhos com uma cajadada só. Sinalizou mais uma vez a orientação política de seu pontificado e neutralizou a impressão de que apenas gasta energia para se defender das acusações de pedofilia na hierarquia eclesiástica.
O comentário é de João Batista Natali, jornalista, e publicado pelo jornal Folha de S. Paulo, 15-01-2011.O IHU o divulgou.


Seu antecessor João Paulo II (1920-2005) será declarado beato em 1º de maio. Qualquer católico militante argumentaria que existem razões teológicas de sobra para isso.Mas a questão é outra. A beatificação - que colocará o papa ao lado do jesuíta José de Anchieta, que morreu em 1597, e de outro papa, João XXIII(1881-1963) - queimou etapas para satisfazer o catolicismo mais tradicional.Bento XVI adotou a mesma exceção à regra que levou João Paulo II, em 2003, a não cumprir prazos processuais para beatificar madre Teresa de Calcutá.
O atual papa foi um auxiliar fundamental do ex-papa na tarefa de neutralizar a chamada "igreja progressista", promovendo a cardeal os bispos de orientação mais conservadora, ou evitando que se tornassem bispos os padres que defendiam a Teologia da Libertação.


Ou seja, há um critério político, que também vale para a promoção do católico já morto à condição de beato ou de santo.Os exemplos frequentemente citados são, de um lado, a demora de agora 40 anos para beatificar o bispo Oscar Romero, assassinado em El Salvador sob a suspeita de simpatizar com a guerrilha de esquerda. De outro, a rápida canonização, 27 anos depois de sua morte, de Josemaria Escrivá de Balaguer, fundador do grupo conservador Opus Dei.A rigor, toda instituição tem o direito de sinalizar suas orientações. E João Paulo II, tanto quanto Bento XVI, ampliaram a possibilidade numérica de sinalizar.O papa morto em 2005 foi o que mais beatificou (1.340 católicos), depois da definição das atuais regras, no final do século XVI. O atual papa, em 2007, beatificou de uma só vez 495 espanhóis.
A Igreja padronizou os critérios de beatificação e canonização apenas por volta do século 12. Antes disso, valiam os santos aclamados pelos cristãos.


A historiadora francesa Régine Pernauld cita exemplos de aclamação primeiramente de mártires e, em seguida, de nobres locais que abriram mãos de suas fortunas para a construção de conventos, orfanatos ou leprosários.