IGREJA-SOCIEDADE ALTERNATIVA

A explicação do sentido desse título, está em ARQUIVO DE POSTAGENS, out. 29 de 2011

sábado, 22 de maio de 2010

A Eucaristia como não nos contaram cont. (p 40)


Se você não leu os posts anteriores sobre a Eucaristia, - desde o post nº 27 - desaconselho ler este. Você poderá ficar confus@.

O autor, frei Isidoro, diz na introdução que não quer responder todas as perguntas histórico-críticas a respeito da Eucaristia,tanto menos criar mais discussões a respeito.Eu também não quero polemizar sobre as conclusões que vou tirar da leitura desse livro:declaro serem de minha inteira responsabilidade.


Uma primeira conclusão:o autor nunca se refere à expressão-chave da doutrina católica: presença real de Jesus com corpo sangue alma e divindade. Nem Santíssimo Sacramento.Essa ausência insinua alguma coisa: trata-se de uma outra apreciação da Eucaristia;apreciação baseada numa exegese atualizada feita com rigor metodológico de alguém que conhece a fundo as ciências auxiliares da pesquisa bíblica.

A leitura católica dos textos do NT sobre a institução da Eucaristia, me parece ser mais uma leitura " ao pé da letra" e portanto, não contextualizada, ao contrário do que faz o autor.

Entendo que a Eucaristia como Memorial da Nova Aliança não exclui por si só, uma presença misteriosa de Jesus no pão consagrado.Mas dada a abrangência dela como Memorial da Nova Aliança e a intenção de Jesus ao institui-la, redescoberta ou reinterpretada na exegese do autor, minimiza e como que dispensa a necessidade dessa presença misteriosa.Isto posto, vejo como inúteis e sem sentido todas as práticas devocionais em torno da eucaristia-presença real: adoração ao santíssimo, benção do santíssimo, procissão com a hóstia, etc. etc.

O padre jesuita,Francisco Taborda, em artigo na Revista Pastoral nº 272, escreve:" Desde o século passado,religiosos vindos da Europa tentaram introduzir uma piedade eucarística calcada na prática do culto aos santos que, em alguns lugares teve êxito. A hóstia consagrada passa a ser cultuada como um "santo" a mais.Esse tipo de piedade vem sendo ultimamente reforçado pela Renovação Carismática Católica,que em muitos cultos focaliza a devoção à eucaristia não como celebração, mas como presença real. O desafio é a maneira pela qual, a partir daí,levar os fieis à centralidade da eucaristia como celebração do mistério pascal."

O que os católicos deveriam realçar,insistir, ensinar é a praxis a que a Eucaristia, como memoria de Jesus, compromete, como fartamente desvenda frei Isidoro. Ele escreve:"O memorial de Jesus só existirá enquanto atingir a praxis e não há memorial sem esta...A justiça na vida quotidiana,antecipa-se à Ceia do Senhor, como celebração comunitária.É mister preceder a celebração com as atitudes.Por isso todos os elementos que participam da vida participam da celebração (Cf Mt 5,23-24).

No post 34, transcrevi do autor:" Para os primeiros cristãos uma coisa parece clara; não havia comunidade sem fração do pão e não havia fração do pão se não houvesse comunhão de vida, sustentada nesse compromisso de fazer aquilo que Jesus lhes havia dito, pois alí encontravam a comunhão entre e a comunhão no corpo e no sangue de Cristo."

No post 32, o texto do autor deixa claro o compromisso com a transformação do presente exigida pelo memorial de Jesus; a vida voltada para a prática de luta pela transformação da sociedade restante é que precisa ser celebrada: " O memorial da Nova Aliança vai diretamente ligado à vida e como ato de culto é celebração da vida" escreve o autor.

Me pergunto: qual teria sido a intenção de Jesus ao instituir a Eucaristia? Pelo que pude apreender da leitura me inclino para duas respostas: 1- é impossível mesmo uma resposta completa e definitiva do sentido das palavras da instituição da Eucaristia que encerre a discussão a respeito.

2 - Como " pão da vida" e "quem vem a mim nunca mais terá fome", esse ir a Ele, crer nele, é fazer aliança com Ele, aliança essa celebrada, ao repetir em comunidade, o memorial da sua e nossa páscoa, da sua vida e nossa vida, voltadas para o compromisso da transformação do hoje para que todos tenham vida em abundância. Isso me parece que corresponde bem ao sentido de Memorial da Nova Aliança.

"A Eucaristia é a última lição à mesa.Nesta lição precisamos entrever todas as outras lições (também aquelas fora da mesa)", escreve lindamente o autor.

"A fração do pão compromete os cristãos à vida comunitária,com suas tensões e crises decorrentes". No entanto o panorama geral da praxis da Igreja hoje, é o do abandono da vida comunitária, pelo individualismo/intimismo. Por que? a Igreja preferiu uma interpretação e uma prática devocional da Eucaristia que evitasse as tensões e crises da vida comunitária,por ser o individualismo menos exigente e mais consolador.

"A liturgia eucarística é o segundo momento,porque nela celebra-se o primeiro momento, a vida da comunidade." (J.Ernst, citado pelo autor). Na prática católica os momentos quase sempre são invertidos; predomina a rubrica, a liturgia.

"O romper do pão está indelevelmente ligado à dimensão da justiça.Sem esta não há ceia por não haver fraternidade".A missão da Igreja era (é) construir a fraternidade no mundo. Conseguiu melhorar. Pouco,porém, se olharmos a realidade de injustiça institucionalizada e globalizada de dominação e de exploração dos mais fracos....Haverá ceia?

No próximo post farei ainda alguns comentários.
As frases entre aspas são tirada do livro A Eucaristia como memorial da nova aliança:autor frei Isidoro Mazzarolo; editora PAULUS.

























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