IGREJA-SOCIEDADE ALTERNATIVA

A explicação do sentido desse título, está em ARQUIVO DE POSTAGENS, out. 29 de 2011

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Caricaturas sobre a imagem de Deus, cont. (p 73)

Nos dois últimos textos seguintes o autor (Andrés Queiruga) mostra algumas das principais deformações da espiritualidade ocasionadas pelas "caricaturas" que você leu até aquí.

A leitura deformada da criação e da redenção, examinada nos textos anteriores (já publicados), acabam por articular uma experiência deformada de espiritualidade. Revela-se então em primeiro plano, uma visão dualista, porque é esta que de certa forma organiza o espaço religioso. Deus lá em cima e nós aqui em baixo, o sagrado e o profano, o que se refere a Deus e o que se refere a nós, a Igreja e o mundo...marcam a fogo a vida espiritual.
Estas distinções tem certo apoio na realidade, por isso não se pode dizer que são totalmente incorretas. O engano é converter a diferença em distância, a distinção em dualismo, o apoio em imposição. Porque então Deus se transforma num senhor, e a religião consiste em serví-lo , aplacá-lo solicitar-lhe ajuda e favores para obter o seu prêmio e evitar o castigo.

Deste modo de pensar deriva espontâneamente uma visão negativa da vida. A redenção se separa da criação e se contrapõe a ela, de modo que todo o criado acaba por aparecer indiferente para a fé quando não aparece negativo e corrupto. Textos da Escritura, em si profundos e veneráveis, acabam sendo lidos em sentido oposto àquele que , na realidade, queriam expressar. Assim, por exemplo, a solicitação de se negar a si mesmo ou a perder a própria vida não pode significar a anulação da própria vida, mas exatamente o oposto: negar a nossa negação, ou seja, o que prejudica o nosso ser autêntico ou o que nos impede de realizar-nos e chegar à plenitude. Deus não quer anular o nosso ser mas levá-lo à sua afirmação literalmente infinita.

As consequências tem sido graves. Daqui nasceu uma espiritualidade inimiga do corpo e desconfiada de todo o prazer que optava pela fuga do mundo. Afirmou-se assim, um espírito de sacrifício que inconscientemente, colocava entre os fieis a ideia que Deus está contente quando nos vê sofrer, ou que concede favores em troca de nosso sofrimento gratuito ou dos nossos sacrifícios. Não se pode estranhar que se tenha chegado muitas vezes a excessos que hoje nos causam horror (certos grupos e certos santuários ainda mostram disso demasiados resquícios) e que se possa ter chegado a acusar o cristianismo de ser inimigo da vida (Nietzsche).

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