IGREJA-SOCIEDADE ALTERNATIVA

A explicação do sentido desse título, está em ARQUIVO DE POSTAGENS, out. 29 de 2011

quarta-feira, 30 de maio de 2012

Igreja dos pobres ou Igreja para todos ? cont. (p 94).

No post anterior deixei para este a incumbência  de analisar um pouco a situação da chamada "Igreja dos pobres" nos dias de hoje. E é mais uma vez o saudoso José Comblin, de grande experiência neste tema, que vai me ajudar através de um artigo que publicou na  Revista "Vida Pastoral"  de março-abril de 2.000. Selecionei alguns trechos e apresento quase sempre na íntegra 
"O mundo dos excluídos veio para ficar. Ele é produzido pelo sistema econômico atual, que vai gerando cada vez mais exclusão. Uma parte da  população tem capacidade   para entrar no mundo  novo da economia, outra parte não . As exigências são cada vez maiores, de modo que a distância cultural aumenta entre os que têm e os que não têm condições de vida digna. Quem nasce no mundo dos excluídos já nasce excluído e nunca poderá recuperar a distância que  o separa de quem nasceu numa família incluída. Somente ínfima minoria, ajudada por muita sorte, consegue, o que não afeta o fenômeno no seu conjunto".
"O atual sistema econômico domina de modo absoluto o mundo todo. Reina praticamente sem contestação entre todos os que detém o poder... No momento não há outra alternativa com força política... É irresponsabilidade pensar que o problema está sendo resolvido e que algumas boas pregações podem mudar a evolução atual do mundo. Naturalmente  todos os governantes dizem, com lágrimas nos olhos que estão preocupados  com a exclusão e a  pobreza. Falam assim para enganar-se a si próprios – pensando que tem bom coração – e ao povo. Na hora de agir acabam fortalecendo o sistema. Nada farão para mudar o sistema atual".
"Os excluídos conseguem sobreviver encontrando brechas no sistema e meios de subsistência. Recolhem as migalhas que caem da mesa dos poderosos. Como os poderosos são muito ricos, as migalhas podem alimentar muita gente. Os excluídos vão formando um mundo próprio, separado, com sua própria cultura e relações sociais  próprias. A cultura dos excluídos está presente nas cidades. É feita de fragmentos da cultura rural desintegrada e de fragmentos da cultura dominante  mais ou menos assimilados. Pois o mundo dos excluídos não está totalmente isolado. Vive ao lado do outro ainda que com comunicação muito superficial. Os novos pobres reinterpretam na sua cultura a exibição da cultura dominante".  
"A Igreja continua repetindo o discurso da opção pelos pobres e excluídos, no entanto esse discurso fica cada vez mais distante da realidade. Se se examina o comportamento real, nota-se com toda a evidência que a Igreja está fazendo opção pelos incluídos perdendo o contato com os excluídos. O discurso repetido serve para esconder a realidade  e tranqüilizar  a consciência... Hoje a força da Igreja está concentrada ao redor de dois pólos: os “movimentos” e as paróquias. Os  “movimentos” estão crescendo cada vez mais e constituem atualmente o setor mais vivo, dinâmico e florescente na Igreja. Na frente está a Renovação Carismática, vindo depois  os Cursilhos", a Canção Nova, Opus Dei, Movimento Familiar Cristão, Comunidades de Aliança e Vida, Focolarinos,  Neo-catecumenais,  Arautos do Evangelho  e outros.
"Os “movimentos” estão implantados no mundo dos incluídos. Todo o seu modo de ser revela a sua perfeita adaptação à cultura dos incluídos. Estão bem inculturados  e por isso fazem sucesso e crescem sem cessar.Apesar de não serem integrados nas estruturas oficiais  da Igreja sua influência  vai crescendo. Não tem o poder na Igreja, mas tem o conhecimento do mundo, a ciência das comunicações e tudo o que o  clero não tem... Por serem emanação da cultura dominante, os “movimentos” não tem comunicação com o mundo dos excluídos, ainda que no seu discurso multipliquem as profissões de boa vontade".
"O segundo pólo forte da Igreja católica, no qual se concentra a quase totalidade do clero, são as paróquias urbanas. Aí se concentra 80% da população. No mundo urbano, as paróquias reúnem as pessoas do mundo dos incluídos . A cultura paroquial adapta-se melhor a eles. O próprio vigário foi educado  na cultura do mundo dos incluídos, sentindo-se mais a vontade  aí".
Em seguida Comblin se pergunta: "E as CEBs não são a presença da Igreja no mundo dos excluídos"?  E responde: "Em primeiro lugar elas não tem mais, na Igreja, a importância que já tiveram... Em segundo lugar, uma grande parte das CEBs está situada nas comunidades rurais afastadas  das matrizes. Este mundo rural conta cada vez menos no conjunto do país... Ainda há uma parte das CEBs que são a Igreja no mundo dos excluídos. Mas essa parte quase não conta na Igreja atual – na vida das dioceses, paróquias  e “movimentos.” 
"O desafio é a presença da Igreja no mundo dos excluídos... Não basta condenar o sistema neo-liberal  em vigor e que aumenta o número dos excluídos. É necessário condenar  mas não basta porque nada vai mudar por causa disso. A influência da Igreja na sociedade é mínima, para não dizer inexistente... Também não basta anunciar uma utopia de nova sociedade ou civilização do  amor. A utopia é necessária para manter a esperança. Porém não basta porque o anúncio do evangelho é anúncio do Reino de Deus no mundo presente". 
Neste ponto do artigo  Comblin  se questiona: diante disso tudo, “ O que dizer e o que fazer em relação a este mundo presente"?  Ele, então, em várias páginas  aponta uma série de pistas . Prefiro, para concluir  esta reflexão, colocar  o que diz a respeito, o Oliveri, em seu livro” Igreja, sonhos...ousadias... mudanças...”, pois aí fica esclarecido o dilema colocado no início: Igreja dos pobres ou Igreja para todos.
“Assim como no conflito entre judeus e gentios (nas primeiras comunidades cristãs), também no conflito de hoje a Igreja deve tomar posição. Deverá se tornar sempre mais uma Igreja dos pobres,  para ser fiel ao Evangelho e ao Espírito Santo. A Igreja dos pobres é a única forma possível de ser Igreja de todos.Trata-se de uma nova forma de ser Igreja, porque vai ter que assumir o jeito dos pobres viverem e sobretudo o grande projeto de libertação dos pobres, tendo em vista uma sociedade justa, onde não haja mais nem rico nem pobre, mas todos sejam irmãos. Tudo isto implica em grandes mudanças  dentro da própria Igreja".
"O que realmente interessa não são as CEBs, nem a Teologia da Libertação que nasce com elas. É o que elas apontam  de novidade, como dom do Espírito para o mundo de hoje. Trata-se da Igreja dos pobres como “ Ressurreição da verdadeira Igreja”, como foi dito com um termo forte. ... É a Igreja toda que há de se transformar a partir dos pobres. Vir a ser uma Igreja não apenas feita prevalentemente  de pobres, mas que assuma concretamente o projeto de libertação dos  pobres.”                                                                                                                                     

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